19/01/2007
Intensidade dos raios ultravioleta do sol é de "extremo alto risco"

Nunca foi tão perigoso tomar sol nesta região do continente. Proporções inéditas no buraco da camada de ozônio estão fazendo a incidência dos raios ultravioleta B, causadores de câncer, atingir níveis altíssimos, segundo pesquisa da PUC.

Porto Alegre, RS - Em plena época de veraneio, a orientação é: evitar o sol a todo custo, e de jeito nenhum tomar banho de sol entre 11h e 17h . "Mesmo com protetor, as pessoas devem evitar se expor aos raios solares quando o Índice UV for igual ou superior a 11", alerta a doutora em ciências Mara Regina Rizzatti, especialista em Física das Radiações do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Física da PUCRS. Ela coordenou uma pesquisa, encerrada em dezembro, na qual constatou que os índices de raios ultravioleta do componente B (UV-B), o principal causador de câncer de pele, atingiram níveis extremamente elevados, no final do segundo semestre de 2006.

Em medições realizadas em Porto Alegre a partir de 2003, o índice mais alto ocorreu dia 23 de novembro de 2006, quando alcançou o nível 18. Índice igual a seis já é considerado de alto risco. Acima de 11, como foi verificado em vários dias, a situação é classificada "de extremo alto risco". Assustada com a descoberta, a equipe de pesquisadores prosseguiu a medição por mais um mês, mesmo tendo encerrado oficialmente o estudo em novembro, e dia 05 de dezembro registrou-se o índice 16, e índice 15 dia 21.

A razão é uma só: segundo o Boletim de Ozônio Antártico, da Organização Meteorológica Mundial, de 19 de julho a 1º. de dezembro de 2006, período coberto pelo boletim, a deficiência média de ozônio sobre o hemisfério sul bateu recorde, foi a pior dos últimos dez anos. Entre 21 e 30 de setembro, nos dias mais críticos, o buraco chegou a uma dimensão de 27,5 milhões de quilômetros quadrados. Em dezembro teria havido uma pequena recuperação, mas o buraco continua situado próximo a esta região do continente, Rio Grande do Sul e arredores, o que significa que, sem o "filtro" da camada de ozônio, toda a carga de raios UV-B emitida pelo sol está passando direto pela atmosfera e chegando à superfície terrestre.

Não é à toa que as pessoas têm a sensação de que desde cedo da manhã o sol já está "queimando" como nos primeiros horários da tarde, acentua a cientista. É uma sensação verdadeira, já que a pele está recebendo todo o impacto dos raios ultravioleta mais danosos para os seres vivos.

Ela explica que o sol emite três tipos de radiações: a infra-vermelha, a visível, e a ultravioleta. Da radiação ultravioleta, sempre incidiram na superfície terrestre os componentes A e uma parte da B. Os seres vivos precisam para sobreviver e convivem bem com a radiação A e com parte da B, que era filtrada pela camada de ozônio até surgirem, na década de 80, os buracos nos dois hemisférios, norte e sul, causados pela ação humana, que permitem a incidência de UV-B com maior energia e maior intensidade sobre a terra.

Protocolo de Montreal

"A atmosfera está doente, não está filtrando o sol, porque o ser humano está degradando a atmosfera", observa a cientista. A concentração de moléculas de ozônio (O 3) fica entre a 10 a 50 quilômetros acima da superfície terrestre, na chamada estratosfera. Em grande quantidade, elas são capazes de absorver a maior parte dos raios UV-B, que podem causar catarata e desordenar o DNA celular, chegando à formação do câncer de pele. O mais grave é que os piores efeitos só começam a ser revelados, em média, cinco anos após a superexposição, o que leva as pessoas a continuarem se expondo ao perigo. Os raios UV-B com esta intensidade também prejudicam e ameaçam toda as outras formas de vida do planeta.

A utilização de gases CFCs (clorofluor-carbonetos) é a principal causa da formação dos buracos na camada de ozônio. O Protocolo de Montreal, firmado em 1987, tenta reverter o problema determinando a eliminação do uso de CFCs até 2010. O mais estranho é que o buraco sobre o hemisfério norte diminuiu sensivelmente, segundo a Nasa, atingindo uma tendência de estabilidade, enquanto o do sul alcançou dimensões superiores em outubro. "Isto significa que os países do hemisfério sul devem rever sua ações para o atendimento do Protocolo de Montreal", aponta Mara Rizzatti. "Deve haver maior conscientização dos governantes para a prevenção quanto às conseqüências econômicas que a destruição da camada de ozônio gera e os risco à biodiversidade".

Ela ressalta que a descoberta da alta incidência de raios UV-B aconteceu durante pesquisa que procurava um novo modelo para quantificar o dano gerado pela radiação UV-A em seres humanos, trabalho que foi patenteado pela PUCRS e será publicado em breve. Já no final da pesquisa, ano passado, ela e sua equipe precisaram determinar o Índice UV, também conhecido como Índice UV-B e levaram um susto com o resultado. Decidiram então ampliar o levantamento, desde 2003 até dezembro último, segundo parâmetros internacionalmente aceitos, e chegaram a estes números altamente preocupantes, conta a cientista.

Segundo Mara Rizzatti, é preciso que os países simplesmente cumpram as recomendações do Protocolo de Montreal para evitar a destruição da camada de ozônio e garantir a manutenção da vida na superfície terrestre. Ela reforça os cuidados que a população precisa ter, numa situação como a atual: "A pessoa não deve se expor ao sol a partir do instante que o índice UV for superior ou igual a 11, principalmente no horário das 11h às 17h, mesmo com a utilização de qualquer tipo de protetor solar, uma vez que os riscos de superexposição já são observados, em média, quando os valores do índice UV são iguais a 6, número que representa um alto risco", adverte.

Crédito de imagem: Sxc.hu
(Envolverde/Ecoagência)