Dossiê projeta limites e soluções para o planeta Terra

 
     
 

Na Scientific American Brasil, cientistas dão prazo para a humanidade: até 2050 podemos criar o melhor dos mundos ou assistir ao planeta entrar em colapso.
 
A revista Scientific American Brasil publica neste mês, com exclusividade, o dossiê “A Terra no limite”, produzido por diversos especialistas internacionais (veja relação abaixo), que dão um recado incisivo: nossa era é "sui generis" e estamos numa encruzilhada; dependendo de nossas ações até 2050, poderemos criar o melhor dos mundos ou assistir ao planeta entrar em colapso.

 

 
     

 

A série de artigos analisa a situação de diversos temas centrais para a definição das próximas décadas, entre os quais se incluem: crescimento populacional, erradicação da pobreza, melhoria da saúde pública, preservação ambiental e da biodiversidade, atenção para o uso racional dos recursos energéticos disponíveis, entre outros.
 
Aliando ciência e política, o dossiê sugere soluções aos problemas da atualidade. As ações, a serem desenvolvidas durante os próximos 50 anos, foram resumidas em 8 estratégias para a primeira metade do século XXI. São elas:

1. controle demográfico
A compreensão das tendências demográficas em processo é fundamental, pois é o contexto no qual as demais ações deverão ser implementadas. O quadro atual é de desaceleração do crescimento vegetativo, envelhecimento e urbanização da população mundial.
 
Provavelmente, já em 2007, a população urbana superará a rural. A projeção indica que, em 2050, habitarão o planeta 9,1 bilhões de pessoas, variando de 7,7 bilhões, se a atual média de 1,5 filho por mulher cair, a 11,7 bilhões, caso a atual taxa de aceleração se mantiver (hoje, a população mundial é de 6,5 bilhões de pessoas).
 
Desse modo, as prioridades são o controle do crescimento populacional e a redução da desigualdade social em diversas localidades do mundo. Para tanto, deve-se estimular a expansão da educação básica de qualidade e a melhoria do acesso à saúde reprodutiva e a métodos contraceptivos, principalmente nos países mais pobres, onde, até 2050, a população pode chegar a triplicar.
 
2. erradicação da pobreza
O objetivo é alcançar as metas do Projeto do Milênio da ONU, de promoção do bem-estar da população mundial, que envolve ações para erradicar a pobreza e a fome, difundir a educação básica para toda a população, reduzir as taxas de mortalidade infantil e materna, combater a Aids, a malária e outras doenças, reduzir a poluição do ar e o desmatamento, entre outros.
 
Atualmente, todos os dias, 20 mil pessoas morrem por falta das necessidades básicas e 1,1 bilhão ganham menos de US$ 1 por dia, vivendo abaixo da linha de pobreza. Uma das estratégias seria dobrar, hoje, para US$ 160 bilhões a quantia de assistência a países pobres (atualmente, esse montante representa 0,5% da soma do PIB dos países desenvolvidos; em 2015, o montante seria elevado a 0,7%). A projeção é de que, em 2015, o número de pessoas em extrema pobreza caia pela metade e, em 2025, se os investimentos se mantiverem, a pobreza seja erradicada.
 
3. preservação da biodiversidade
Em todo o mundo, foram identificadas 25 regiões que concentram um grande número de espécies de animais e vegetais em grave risco de extinção, onde, em média, a ação humana chegou a destruir mais de 70% da vegetação original. Em sua maioria, as localidades se encontram nas Américas do Sul e Central, Ásia e África.
 
O Brasil, por exemplo, já teve mais de um milhão de km² de florestas costeiras. Hoje, dispomos de apenas 10% desse total, onde habita o maior número de espécies ameaçadas de extinção. A estratégia seria investir na preservação da biodiversidade do planeta, de modo a garantir o equilíbrio ecológico.
 
4. controle do “efeito estufa”
Hoje, expelimos no ambiente três vezes mais dióxido de carbono (CO2) do que o ambiente consegue absorver, provocando o chamado “efeito estufa”, resultando na elevação da temperatura média global.
 
Como a principal causa dessa emissão é a queima desenfreada de combustíveis fósseis, a estratégia seria realizar mudanças em nosso modo de produção e utilização de energia, aumentando o uso de fontes renováveis de energia – como sol, ventos, correntes de água, biomassa, energia geotérmica, substitutos do petróleo, entre outros – em empresas, residência e transportes.
 
Até 2050, essa utilização, ainda dependente de avanços tecnológicos, reduzirá drasticamente a emissão de CO2 no ambiente, medida que deve também se mostrar lucrativa, uma vez que as maneiras de produzir e armazenar energia devem ficar mais baratas.
 
5. incentivo à pequena agricultura
Para reduzir a pobreza na África, Ásia e América, uma outra estratégia é melhorar o acesso a tecnologias de produção – principalmente irrigação – e a mercados para os pequenos produtores rurais, medida que teria impacto na erradicação de focos regionais de extrema pobreza e na expansão das economias locais.
 
Sistemas alternativos de irrigação, por exemplo, além de mais baratos, podem melhorar ainda o acesso à água potável para cerca de 1,1 bilhão de pessoas abaixo da linha de pobreza, 80% delas residentes na zona rural.
 
6. saúde pública
A disparidade entre a situação de saúde das populações ricas e pobres está crescendo, e há o risco de sermos afligidos por pandemias. A estratégia seria, além de incrementar os investimentos em saúde pública, definir prioridades na formulação das políticas públicas na área, orientadas por três preceitos: ações preventivas, que vão desde mutirões de vacinação a campanhas antitabagistas, potencialização de sistemas de informação e criação de uma infraestrutura internacional de promoção da saúde.
 
A projeção para 2020 é de que as 10 primeiras fontes de DALYs – disability-adjusted life-years, índice que quantifica os anos de vida saudáveis perdidos em decorrência de doenças ou outros danos – serão, em ordem decrescente: doenças do coração, depressão, acidentes de carro, derrame, enfisema, bronquite, pneumonia e outras infecções respiratórias, tuberculose, diarréia e HIV.
 
Em 1990, o quadro era outro: pneumonia e demais infecções respiratórias, diarréia, distúrbios no parto e em recém-nascidos, depressão, doenças do coração, derrame cerebral, tuberculose, sarampo, acidentes de carro e defeitos congênitos.
 
7. economia X recursos naturais
Nos próximos anos, será fundamental a promoção do equilíbrio entre produção e utilização dos recursos naturais do planeta. A atual aceleração da economia mundial não conseguirá ser acompanhada pelas reservas de recursos naturais durante muito tempo, podendo causar catástrofes ecológicas ou econômicas. As medidas devem ser orientadas por três parâmetros: limitar o uso de recursos escassos, explorar fontes renováveis de recursos naturais e utilizar os recursos não-renováveis numa taxa equivalente ao desenvolvimento de recursos renováveis.
 
8. prioridades políticas
Durante os próximos 50 anos, será central a identificação de prioridades políticas para reduzir problemas ambientais e humanitários. Governos, agências internacionais e demais atores globais, quando patinam na definição de estratégias, têm como resultado progresso lento e custoso.
 
OS AUTORES
Joel E. Cohen, demógrafo, professor das universidades de Columbia e Rockefeller (EUA).
Jeffrey D. Sachs, economista, dirige o Earth Institute da universidade de Columbia (EUA) e o Projeto do Milênio, da ONU.
Stuart L. Pimm e Clinton Jenkins, ecólogos, da universidade Duke (EUA).
Amory B. Lovins, físico, co-fundador e diretor executivo do Instituto Rocky Mountain.
Paul Polak, fundador e presidente do International Development Entrerprises (IDE).
Barry R. Bloom, epidemiologista, professor da universidade Harvard (EUA).
Herman E. Daly, economista, professor da universidade de Maryland (EUA).
W. Wayt Gibbs, um dos editores da Scientific American internacional.