VOCÊ REALMENTE CONHECE A PRAIA?

Dr David Szpilman

Sempre fui rato de praia desde pequeno, quando freqüentava a praia de Copacabana com o meu madeirite (que saudades!). Há alguns anos, um oceanógrafo me apresentou cientificamente a praia e deu "shape" a todo aquele sentimento pelas ondulações que tanto amava. Desde então juntei a forma ao conteúdo e entendi fatos importantes do meu trabalho como médico junto aos guarda-vidas. 

As ondas que quebram nas praias podem ser geradas em oceano profundo e se propagado em direção à costa como ondulações, ou geradas na própria costa pela atuação dos ventos que sopram no local. Não raramente observam-se várias séries de ondas de diferentes direções chegando à praia. Muitas mudanças ocorrem quando as ondas se aproximam da zona costeira. A mais óbvia é o aumento na altura da onda enquanto esta se propaga para regiões mais rasas. O fundo atua como um freio ao movimento da onda através da fricção, fazendo com que a velocidade de propagação da crista seja maior do que a velocidade de propagação do corpo da onda, diminuindo a distância entre as cristas sucessivas e assim, o comprimento. As ondas tornam-se mais esbeltas com o aumento da sua altura, e quando a esbeltez (razão entre a altura e o comprimento de onda) chega a 80% da profundidade do local, a onda torna-se instável e quebra na praia, formando uma massa de água turbulenta, espumante e branca, a arrebentação ou zona de surfe. As ondas têm a mesma direção dos ventos que as geram, e ao se aproximarem do litoral, onde o mar é mais raso, sofrem a interferência do fundo, cujo efeito é tornar as cristas de ondas aproximadamente paralelas à costa. Esta massa de água gerada pela quebra da onda espelha na areia e retorna ao oceano. A água escolhe o caminho de menor resistência para retornar ao oceano, aprofundando cada vez mais aquele local, formando um "rio" em direção ao mar. A este fenômeno damos o nome de corrente de retorno. 

Na praia a corrente de retorno é o local onde ocorrem 85% dos afogamentos. 

Esta corrente possui três componentes principais, a saber, (figura):
· A boca: fonte principal de retorno da água
· O pescoço: parte central do retorno da água em direção ao mar.
· A cabeça: área em forma de cogumelo onde se dispersa a correnteza.

 

Sempre que houver ondas, haverá uma corrente de retorno. Sua força varia diretamente com o tamanho das ondas e pode atingir até 2 a 3 m/seg. 

Sua formação pode variar caso existam pedras, quebra-mar e outras alterações no fundo da praia. Basicamente existem quatro tipos principais de correntes de retorno:
1. Fixa: Comuns em fundos de areia permanecem no mesmo local enquanto o fundo for o mesmo.
2. Permanentes: permanece no mesmo local durante todo ano e são usualmente comuns em fundos de pedra ou coral, ou perto de pedras e piers.
3. Transitórias ou tipo "flash": Correntes que ocorrem repentinamente e inesperadamente geralmente causadas por seriados de onda maiores do que o normal.
4. Viajantes: São correntes comuns em fundo de areia que se movem ao longo da praia a favor da direção do vento e/ou da corrente.
Para reconhecer uma corrente de retorno (vala), observe:
· Que geralmente aparece entre dois locais mais rasos (bancos de areia).
· Que se apresenta como o local mais escuro e com o menor número ou tamanho nas ondas.
· Que é geralmente o local onde aparenta maior calmaria.
· Que apresenta uma movimentação a superfície ligeiramente ondulada em direção contrária as outras ondas que quebram na praia.

LEMBRE-SE SEMPRE: Na praia a corrente de retorno é o melhor local para entrar no mar e o pior local por onde sair.