SURFAR EM DIAS DE TEMPESTADES, É SEGURO?

Dr David Szpilman

Quem não surfou um dia clássico, de vento terral, durante uma tempestade de verão? Todos já fizemos esta "aventu-loucura" ao menos uma vez. Foram muitas às vezes em um final de tarde, que corri para praia ao ver a tempestade se armar no horizonte, com a esperança que a mudança no vento traria um clássico dia de surf sem muito "crowd". Nesta matéria fizemos uma revisão dos prazeres de surfar durante tempestades X os riscos.
Os raios são uma inspiração a todos, e tem uma relação de representação muito grande com velocidade e força. Lembro-me até que era "fashion" na época do grande "Gerry Lopez". Os antigos tentavam explica-los em mitos e lendas. Thor, o Deus "Viking", usava os raios através de seu martelo para vencer os inimigos, e Júpiter atirava raios como forma de expressar sua insatisfação com a raça humana. Embora as explicações modernas sejam menos românticas, possuem mais acurácia.
A freqüência de ocorrência de tempestades com raios varia conforme o local e o clima e podem variar de zero (Alasca e Hawaí) a mais de 240 tempestades ao ano (Florida e Uganda). Os trópicos úmidos são os locais de maior ocorrência. No Brasil, o período de maior ocorrência de tempestades situa-se entre Dezembro e Março, no período da tarde para a madrugada. São as famosas "tempestades de verão". Em geral existem mais de 1.800 tempestades com raios ocorrendo no planeta Terra e mais de 100 raios a atingem a cada segundo. A temperatura que o raio produz em sua passagem pela atmosfera é cinco vezes a temperatura do sol, na velocidade de milisegundos, produzindo uma onda de choque com a força de 20 ATM no ar aquecido, resultado em uma explosão (trovão), que gera uma onda de choque.

Os raios são a 3a causa de morte provocada por causa natural, sendo mais comum entre 15 e 44 anos de idade. Estima-se que os raios atinjam em torno de 500 a 1.000 pessoas por ano nos EUA, e destas 30% morrem. Os números reais são subestimados já que não existe obrigatoriedade em reporta-los. A possibilidade de alguém ser atingido por um raio varia conforme o número de pessoas expostas ao ar livre, e o número de tempestades, na área. As pessoas mais atingidas são aquelas que estão fora de casa, em ambientes abertos (praias, piscinas), onde elas se tornam o ponto mais alto.
Mecanismo da lesão pelo raio

A corrente elétrica do raio possui em torno de 40.000 Ampéres em um microsegundo, e tem a preferência por passar pelos materiais ou tecidos onde há menor resistência e ela depende da umidade do material. A pele molhada conduz a eletricidade 40 vezes mais rápido, e dentro da água, 66 vezes. O raio pode atingir o surfista de diferentes formas, no entanto dentro da água a possibilidade de ser atingido é muito maior do que na areia, mesmo estando molhado:

Dentro da água
Raio Diretamente na cabeça - O raio atravessa o corpo como forma de passagem para atingir a água. São as lesões mais graves, matam em 38% dos casos, pois lesam o coração freqüentemente. A alta temperatura pode causar grande extensão de lesões profundas com pequenas evidências de lesões superficiais, e até a ignição da roupa de borracha. 

Fenômeno em "Splash" e/ou "flashover" - Ocorre quando um raio atinge a água, e se espalha atingindo a vítima que se encontra perto. A eletricidade passa pela pele, e em sua passagem pode provocar lesões ao encontrar objetos de adorno, podendo aquecer ou explodir alguns deles (ex: roupas, anéis, correntes).

Trauma - Pode ocorrer por objetos voando na área da tempestade, expansão do ar superaquecido, explosão de certos objetos, queda da vítima ou ainda pela onda de choque sonoro produzido (trovão) próximo a vítima. 

O raio segue o caminho de menor resistência entre os pontos de contato do corpo, tornando qualquer órgão vulnerável. Os tecidos de menor resistência a passagem da eletricidade são a pele, o cérebro e os músculos. As alterações mais graves são, a parada respiratória e ou a parada cardíaca, que levam a morte rapidamente se não for revertida por uma pessoa próxima. Ainda assim, caso não ocorra a parada respiratória, sabemos que a perda da consciência ocorre em 72% das pessoas, o que invariavelmente levará ao afogamento e consequentemente a morte.

O que fazer para ajudar a vítima por raio, dentro da água?
A maior parte das mortes ocorre por parada respiratória, que pode ser revertida pelo rápido atendimento.
1. Proteja-se de ser atingido antes de iniciar a ajuda. O raio pode cair no mesmo lugar duas vezes!
2. Cheque se a vítima esta respirando (ABC da vida dentro da água). Caso não tenha respiração, inicie imediatamente o boca-a-boca e reboque a vítima para a areia. 
3. Na areia, peça a alguém que acione uma ambulância através do telefone 193 (Bombeiros) e continue fazendo o boca-a-boca até a ambulância chegar, ou a vítima reagir.
4. Procure aprender Suporte Básico de Vida (ABC da vida), pois disto pode depender a vida de seu "brother".

Como evitar de ser atingido?
· Durante tempestades, saia imediatamente de dentro da água, onde você é o ponto mais alto e, portanto mais vulnerável. A areia é mais segura, embora ainda sim não seja o ideal.
· Só retorne ao mar 15 minutos após não haver nenhum trovão (atividade elétrica).
· Quando ouvir um trovão, procure abrigo no prédio mais próximo ou dentro de um veículo.
· Evite segurar objetos altos como sua prancha.
· Fique longe de Piers, e estruturas de metal que podem conduzir a eletricidade de longas distâncias até você.
· Em piscinas descobertas o raio também é uma possibilidade. Retire todos da piscina ao menor sinal de trovão e/ou raios.
· Roupas de borracha ou nadadeiras não evitam de ser atingido.
· Em dias claros, os trovões podem ser os únicos indícios da existência de atividade elétrica na área. Para saber a distância entre a queda do raio e o local onde você se encontra, conte, 1, e 2, e 3,... até ouvir o trovão. Divida o número achado por 3, e será a quilometragem que a tempestade está de você.

Não dê mole para o acaso, todos estes fatos colocam o surf
como um esporte de alto risco em dias de tempestades. 
BOAS ONDAS!